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No, no, no...

Publicada em 14/08/2011 às 11h34

Mais uma vez, o previsível acontece: a morte da Amy Winehouse. Como fala Gabriel Garcia, "crônicas de uma morte anunciada". O tema vira assunto para mídia. A Amy tem agora, em morte, seus quinze minutos de fama. Paramos e descobrimos que era uma boa artista. Até então, a diva louca, a drogada sem rumo e prumo, uma péssima influência para filhos. A morte resgata quinze segundos de dignidade e expõe uma realidade cruel: a diva louca era diversão para todos.

E essa diva drogada não está só: são muitos artistas e milhares de anônimos que sucumbem à dependência química. Atualmente, sem exagero, talvez 70% da humanidade tenham algum tipo de dependência química, que vai do álcool, tabaco e ansiolíticos a drogas ilícitas. O crack e o oxi estão matando crianças com 7, 8 anos.

Amy deu seu espetáculo: "no, no, no", diz na música "Rehab". Enquanto muitos se divertiam em ver a morte diária dela. Comunidades virtuais chegaram a apostar o dia da morte da Amy. Para a sociedade de espetáculo, um show. Enquanto isso, nada de concreto é feito para dependentes químicos. Prevenção, então, nem se fala. As escolas não debatem abertamente o tema, a família cala-se, a não ser para mostrar o exemplo de uma diva louca e seu "no, no, no".

Bem próximo, muitos podem até pedir ajuda, mas a sociedade se cala e os gestores "no, no, no". Há um mês, chega no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) uma criança de 8 anos quase morta. Usa crack há 3 anos. Parece um fantasma mirim, uma criança marcada para morrer. O que podemos fazer? Quase nada, ou nada. E, para nosso desespero, todas as classes sociais estão sendo atingidas. O álcool é a porta de entrada. Este é consumido, estimulado, tem forte mídia.

Segundo pesquisas do doutor Ronaldo Laranjeiras, é vendo os pais e parentes bebendo que a criança começa sua jornada nas drogas. Em seguida, vem um passo para ilícitas. E não tem retorno. É uma luta pesada, digna dos vingadores contra as forças cósmicas do mal. Este artigo não vai sensibilizar, sabemos disso. A crônica de uma morte anunciada continua. E vamos esperar a próxima vítima de um famoso, com a maldição dos 27 anos. Amy deu sua contribuição. Virou pó. Deixa um legado musical que poderia ser fundamental para a música se mais tempo de vida e sanidade tivesse. Que as suas cinzas flutuem sobre os corpos anônimos que morrem diariamente. E "Rehab" ecoe em nossas cabeças para sempre. Na prática nos movemos? No, No, No.

Hermano José Falcone de Almeida

Hermano José Falcone de Almeida

CRM-PB: 3982

Especialidade: Psiquiatra infantil

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