Artigos Médicos

Geração Zero

Publicada em 26/06/2011 às 11h18

Atualmente vivemos uma crise de identidade social generalizada. Pesquisando na história, me reporto a Mary Del Priore, grande historiadora, o coletivo vem fragmentando-se rapidamente dando lugar a um individualismo exacerbado. Neste meio, onde achar um espaço para crianças e adolescentes? No passado, morríamos de doenças, guerras, fome. A expectativa de vida era de 14 anos. Agora, temos a expectativa de viver cem anos, passar bem pela infância e adolescência, e viver todas as fases. Mas que fases?

Esta semana, atendemos uma criança de sete anos usuária de crack. Já faz parte do cotidiano. Adolescentes não têm norte e sul, com algumas boas exceções, e a velocidade suicida dos carros, que os pais dão ao menor de 13 anos, matam e dão a sensação de onipotência. Hoje, a política de redução de danos sente saudades da maconha. O crack e o óxi devastam em pouco tempo. Matam em pouco tempo. No buraco da falta de ideologias e estrutura de família, o óxi vem entrando com força, ceifando vidas.

A família nuclear está em mutação. E ainda não surgiu uma alternativa no imaginário coletivo para preencher o vazio. As varas de família podem comprovar. Brigas, disputas por filhos, alienação, negligência e abuso. Agora não se morre mais de doenças. A morte é o vazio. O tédio. Nunca vivemos tanto, mas a qualidade desta vida não está sendo questionada.

Outras situações: um menino de onze anos aparece com óculos escuros, usuário de crack, e diz ao médico: O que você quer? Se intervier, mando a turma te pegar. Em outro momento, chega uma menina de 13, já agenciadora de crianças para prostituição e usuária de crack. Mediante tal situação, ouso denominar esta geração de "Z". "Z" de zero. Recomeço? Talvez tenhamos que apelar para a geração "X". "X" de X-Man.

No nosso imaginário, ainda temos uma geração de mutantes fictícios a querer salvar a humanidade. Mas o "W" é a chave. "W" de Wolverine e seus ossos de adamiantum. Um metal resistente e cicatrizante. Wolverine tem o fator de cura. Vamos ultrapassar o zero e entrar no "X". E com um pouco de esforço, no "W". Sem essa utopia, não sairemos do zero e a laranja mecânica que faz nossa vida se tornar um pânico, sem fim.

Hermano José Falcone de Almeida

Hermano José Falcone de Almeida

CRM-PB: 3982

Especialidade: Psiquiatra infantil

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