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A quantas anda a relação médico-paciente?

Publicada em 12/10/2012 às 11h48

A relação médico-paciente, apesar de ser um tema muito antigo, sempre terá importância, uma vez que, por mais tecnologia que se empregue na medicina, a condição humana nunca deixará de ser o foco da prática médica. Em \"O Nascimento da Clínica\", Michel Foucault demonstra como a política e o poder influenciaram as intervenções na saúde individual e coletiva, gerando uma assimetria que se mantém até hoje nesta relação, a despeito da saúde ser um campo multidisciplinar e das transformações ocorridas na sociedade contemporânea.

O modelo ainda centrado na doença se soma às moderníssimas tecnologias; assim, os médicos são cada vez mais induzidos a esquecer da subjetividade dos pacientes, o que traz prejuízos evidentes. O avanço nos conhecimentos trouxe muitas vantagens; por outro lado, fragmentou o indivíduo de um modo que se tornou difícil, tanto na formação quanto na prática médica, olhar e ver o paciente como um ser único e indivisível. Os custos da saúde tornaram-se muito elevados, permitindo ao capitalismo, imperante em quase todo o mundo, estender as desigualdades e iniquidades também a essa esfera.

A interposição dos planos e seguros de saúde também contribuiu na deterioração das relações. Muitos deles, além de impingirem valores ao trabalho médico, restringem a escolha dos pacientes aos médicos inscritos em sua cartela de profissionais, nivelando-os qual exército de prestadores de serviço, sem distinção de qualidades individuais, como experiência ou proficiência. Se há ineficiência dos sistemas públicos, a insatisfação da população manifesta-se contra o profissional da linha de frente, o médico, raramente dirigindo-se aos gestores. Pouco se compartilha ideias, pouco se confabula nas tomadas de decisões sérias.

A esse cenário se junta a medicalização excessiva: para todas as condições, muitos médicos e pacientes parecem se unir na esperança vã de tudo resolver; de eliminar totalmente as dores; exorcizar a velhice; banir a tristeza e prolongar a vida, valendo ou não a pena. Felizmente, nos últimos tempos, tem se aceitado que a medicina não é uma ciência exata e tem limites.

Todos, pacientes e médicos, precisamos reconhecer a existência desses inúmeros fatores, alguns nem listados aqui, que nos prejudicaram ao longo do tempo. Dia do médico, 18 de outubro, nos remete a refletir sobre eles e discuti-los abertamente: pode ser o primeiro passo para ajudar a restaurar a confiança mútua e resgatar esta relação tão importante.

 

Maria de Fátima Duques

Maria de Fátima Duques

CRM-PB: 2638

Especialidade: Gastroenterologista

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