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A temível febre reumática

Publicada em 03/06/2016 às 19h15

A febre reumática e a cardiopatia reumática crônica são complicações da faringoamidalite causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A. Essa bactéria responde por apenas 15 a 20% das infecções orofarigeanas, mas apenas 3% dos infectados desenvolvem esse tipo de reumatismo. No Brasil ocorrem cerca de 19 milhões de faringoamidalites estreptocócicas, totalizando 30 mil novos casos de febre reumática. A faixa etária mais acometida com a doença é de crianças entre cinco a 15 anos (rara até 3 anos).

Na fase aguda, a doença apresenta febre, prostração, palidez, epistaxa e inapetência. Com a evolução surgem sintomas como a poliatrite, que atinge joelhos, cotovelos, tornozelos e punho; a cardite (pancardite) que acomete três camadas do coração; a coreia de Sydenham que são alterações na motricidade (fraqueza nos braços e nas pernas; movimentos involuntários na face e nas extremidades); o eritema marginado que são lesões cutâneas múltiplas no tronco e próximo aos membros; e os nódulos subcutâneos indolores que podem surgir nas articulações.

O diagnóstico clínico tem como fundamento as queixas dos pacientes e seus antecedentes de infecção na garganta. Para firmá-lo adota-se os "critérios de Jones", modificados pela American Heart Association (AHA) em 1992, e revistos pela OMS em 2014. Os critérios classificam-se em maiores - artrite, cardite, coreia, eritema marginatum e nódulos; e menores - febres, artralgias, elevação dos reagentes na fase aguda. Embora consideradas inespecíficas, as alterações dos exames de laboratório auxiliam na caracterização e no acompanhamento da febre reumática. Na fase aguda, a cultura orofaringe é o padrão-ouro para diagnóstico da infecção (90% a 95%). O Rx do tórax pode revelar cardiomegalia e sinais de congestão pulmonar. Já o ECG e os exames de imagem podem evidenciar comprometimento cardíaco.

O tratamento compreende repouso; antibioticoterapia; uso de aspirina ou anti-inflamatórios não hormonais, corticóides (predsona), quando há lesões cardíacas; e haloperidol ou ácido valpróico, em casos de coréia. Na prevenção de novas infecções usa-se penicilina G benzatina. A retirada das amídalas não impede que a criança tenha outros surtos de febre reumática, pois ela está sujeita a infecções nas paredes da garganta. Não existe vacina contra a febre reumática nem tratamento que cure a doença já estabelecida

Sebastião Aires de Queiroz

Sebastião Aires de Queiroz

CRM-PB: 475

Especialidade: Pediatra e médico do trabalho

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