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Resgate da importância funcional do apêndice cecal.

Publicada em 31/01/2020 às 18h21

O apêndice é descrito como uma pequena formação tubular, terminada em fundo cego que pende do ceco, segmento inicial do intestino grosso. Tem a conformação de um dedo de luva, mede entre cinco a vinte centímetros de comprimento (média de oito), por um centímetro de largura, e é também conhecido como apêndice vermicular. Localiza-se na região inferior direita do abdômen, e faz parte do sistema digestório. Há pessoas que podem ter dois apêndices, e outras que nascem sem nenhum. Sobre ele escreveu Charles Darwin: “O apêndice é uma estrutura vestigial que tende ao desaparecimento ao longo da evolução”.

Além de haver sido considerado, injustamente, e por quase cem anos, como um segmento residual, inútil e sem função orgânica significativa, carrega o estigma de poder inflamar-se e infectar-se. Em caso de supuração, poderá romper-se e contaminar o peritônio, camada que reveste os intestinos, causando peritonite, quase sempre letal. Para a bióloga Alanna Collen - detentora de mestrado em biologia pelo “Imperial College London” e de doutorado em biologia evolutiva pela “University College London” e pela Zoological Society of London – cujo livro “10% Humano” (Editora Sextante, 2015), acabei de ler, a comunidade médica passou a considerar o órgão tão inútil, que na década de 1950, a sua remoção tornou-se um dos procedimentos cirúrgicos mais realizados no mundo desenvolvido. A cirurgia costumava até a ser oferecida como bônus durante outras cirurgias abdominais.

Atualmente, no entanto, sabemos que, ao invés de ser só um filamento atrofiado de carne, na verdade está repleto de células e moléculas imunes especializadas, que não são inertes. Bem ao contrário, é órgão linfático, ainda que secundário, que detém grande quantidade de tecido linfoide e funciona como um reservatório de linfócitos (globos brancos), que são responsáveis pela defesa do nosso organismo contra infecções, protegendo, e se comunicando com uma coletividade de micróbios que nos protege contra bactérias que nos possam causar danos, e produzindo glóbulos bancos, sobretudo no período da infância, tendo um funcionamento semelhante ao timo. Em 2.007, foi noticiado que um estudo realizado na “Duke University Medical School”, e publicado na “Revista do Journal of Theoretical Biology”, revela que a função do apêndice parece estar relacionada com a população de bactérias que habita e ajuda o sistema digestivo. Segundo Bill Parker, coautor do estudo, o apêndice funcionaria como uma fábrica de bactérias, cultivando os germes “bons”. No final de 2009, foi descoberto que o apêndice possui bactérias que podem funcionar como anticorpos para o nosso organismo.

 

 

 

 

Sebastião Aires de Queiroz

Sebastião Aires de Queiroz

CRM-PB: 475

Especialidade: Pediatra e médico do trabalho

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