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Sífilis congênita

Publicada em 17/05/2019 às 18h

Na condição de pediatra - antes de focalizar a sífilis congênita, objeto de especial interesse da especialidade, assim como da obstetrícia que acompanha a mulher durante o ciclo grávido-puerperal – tenho como indispensável a prévia elaboração de uma síntese sobre a sífilis como doença sistêmica grave e, como tal, objeto da maior preocupação, também, dos profissionais que atuam na rede de atenção básica de saúde. Embora possa ser prevenida e curada, a infecção permanece como sério problema de saúde pública, de acordo com a OMS. Sua incidência aumenta Sífilis congênita a cada ano, em nível mundial e em nosso país. Segundo o Ministério da Saúde, suas taxas de notificações entre 2010/2016 elevaram-se de 2.0 casos por 100 mil habitantes para 42.5. Transmitida por relações sexuais desprotegidas, é causado pela bactéria Treponema Pallidum, e pode ser recente - até um ano da data de contágio -, e tardia, depois desse período.

Classifica-se como: a) primária (úlcera ou cancro de inoculação no local da infecção, que surge, em média, três semanas após o contágio, e vem acompanhada de enfartamento ganglionar regional); b) secundária (erupções na pele e nas mucosas, também com reação ganglionar); c) latente (recente ou tardia), quando não há sintomas ou sinais, e d) terciária (lesões viscerais predominantes em órgãos dos sistemas cardiocirculatório e nervoso central, entre outros. O diagnóstico é feito através do teste rápido (TR), disponível nos serviços de saúde do SUS. Se positivo, ele deverá ser confirmado por exame sorológico (VDRL) e, conforme o caso, por outros de maior sensibilidade.

Sífilis congênita é o que acomete o concepto em sua vida uterina, e cuja transmissão é feita da gestante infectada - não tratada ou inadequadamente tratada - por via transplacentária (sanguínea).  O período de detecção da SC compreende o pré-natal, o parto e o pós-parto. Segundo publicação de 2017, da Secretaria de Vigilância em Saúde do MS, de 1998 a junho de 2017, foram notificados 159.890 casos de sífilis congênita no Brasil em menores de um ano de idade. Assim, as taxas da sífilis em gestantes e congênita aumentaram cerca de três vezes nesse período, passando de 2.4 para 6.4 e de 3.5 para 12.4 casos por 100 mil nascidos vivos, respectivamente. 

O contágio poderá acontecer em qualquer fase gestacional ou estágio clínico da doença materna. Há, também, a possibilidade de contaminação da criança quando ela passa pelo canal do parto, nos casos em que haja lesões genitais maternas. No aleitamento, só ocorrerá se houver lesão mamária por sífilis. É portador de sífilis congênita todo recém-nascido, natimorto ou aborto de mulher com sífilis não tratada ou medicada inadequadamente. No RN de mãe sifilítica, a infecção congênita evolui em dois estágios – recente, diagnosticada até dois anos de vida e assintomática, e tardia, após esse período, com sintomatologia evidente. São sequelas da sífilis congênita - que ocorrerão em 40% dos casos de mães não submetidas a tratamento completo - o aborto espontâneo; o natimorto, a morte peri-natal e recém-nascidos sobreviventes com deficiências visuais, auditivas e mentais. O diagnóstico é feito através do histórico e do exame clínico dos pacientes, complementado por exames laboratoriais e de imagem. O controle vertical da infecção demanda a pesquisa ativa de gestantes para exame pré-natal, e de seus parceiros sexuais, bem como o uso de camisinha, masculina e feminina.

 

Sebastião Aires de Queiroz

Sebastião Aires de Queiroz

CRM-PB: 475

Especialidade: Pediatra e médico do trabalho

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