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Exercício físico e morte súbita

Publicada em 28/09/2012 às 14h40

Quando procuramos estabelecer uma relação entre o exercício físico e a morte súbita de origem cardíaca, o pensamento pode nos direcionar tanto para aspectos preventivos associados a tal prática quanto pode nos alertar para fatores relacionados ao tema como uma verdadeira causa. Em outras palavras, o exercício tem sido e realmente pode ser visto de forma antagônica. Se por um lado existe um imenso potencial preventivo na relação entre exercitar-se e morrer subitamente, também existe um risco definido de se morrer subitamente durante ou, especialmente, após a atividade física. Por isso, a morte súbita relacionada ao exercício deve ser analisada de forma crítica, ser embasada nas evidências disponíveis, sendo levada muito a sério, pois mesmo pouco frequente, quando incidente, tem sempre um impacto profundo na comunidade médica e na população em geral.

Visto pelo ângulo positivo, o hábito de exercitar-se de forma regular e crônica proporciona um efeito protetor na prevenção primária e secundária da doença arterial coronária. Alguns destes benefícios podem ser oriundos da diminuição na progressão ou, até mesmo, na regressão da aterosclerose coronária. A melhora no condicionamento físico atlético também pode relacionar-se a alterações benéficas no perfil do colesterol e triglicerídeos, à perda de peso, à diminuição na frequência cardíaca e na pressão arterial de repouso. Além disso, a prática continuada de atividades aeróbias possibilita uma melhor extração periférica de oxigênio pelos músculos esqueléticos, possivelmente estimula a circulação colateral do coração e aumenta o controle do diabetes, entre outros tantos efeitos recomendáveis.

No entanto, uma pequena parcela das pessoas possui patologias que fazem com que o exercício possa perder este papel de proteção contra eventos cardiovasculares agudos. Tais situações independem do nível de condicionamento físico, podendo acometer atletas altamente treinados ou pessoas que praticam exercícios físicos apenas eventualmente. A morte súbita é a mais grave manifestação desta situação, sendo vital para o médico e, em especial, para o cardiologista conhecer e saber identificar em quais situações o exercício físico deva ser desaconselhado.

A decisão de desaconselhar atividade física deve ser fundamentada em um risco realmente presente. Se feita erroneamente, tal decisão estará privando o indivíduo de uma medida simples e com real utilidade para diminuir os riscos de outros problemas cardiovasculares. Logo, a atividade física regular pode produzir benefícios múltiplos, não apenas sobre a doença arterial coronária, mas também sobre seus fatores de risco. Para tanto, é vital que o médico e, em especial, o médico do esporte e o cardiologista mantenham-se atualizados quanto às causas de morte súbita relacionadas ao exercício e suas múltiplas apresentações.

Antônio Eduardo Monteiro de Almeida

Antônio Eduardo Monteiro de Almeida

CRM-PB: 4807

Especialidade: Cardiologista

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