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EVALI, a terrível doença do cigarro eletrônico

Publicada em 20/03/2024 às 12h19

A denominação Evali surgiu em 2019, nos Estados Unidos, no rastro de uma epidemia que acendeu o sinal amarelo em todas as entidades científicas e sociedades médicas do mundo. Em inglês: E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury. Na tradução objetiva para o português, Lesão Pulmonar Associada ao Uso do Cigarro Eletrônico.

Do cigarro convencional, sabe-se há muito tempo de seus riscos, perigos, doenças, invalidez precoce e milhões de mortes. Responsabilidade das 56 patologias promovidas pelas substâncias de elevada nocividade que o fumante joga em seu organismo diariamente. Três delas, mais graves, mais frequentes e que costumam antecipar o atestado de óbito dos nicotínico-dependentes.  

A saber: infarto do miocárdio, enfisema pulmonar e câncer de pulmão. São doenças promovidas pela inalação persistente das substâncias nocivas ao longo de décadas de tabagismo. Destaque todo especial para a nicotina, aldeídos, formaldeídos, monóxido de carbono, nitrosaminas, abundantes na fumaça do cigarro convencional e, ao contrário da desinformação e a ingenuidade de muita gente, elas passeiam com desenvoltura nos corredores do aparelho respiratório, nos labirintos do sistema cardiovascular daqueles que se tornaram dependentes do cigarro eletrônico (CE) ou dispositivo eletrônico para fumar (DEF).

Durante todo o período do reinado absoluto do cigarro convencional, os tabagistas desenvolviam doenças de evolução crônica, conforme já referido, com especial destaque para o enfisema e câncer (pulmão, boca, esôfago, estômago...), protagonistas com imenso destaque da mortandade de 160 mil brasileiros remetidos todo ano aos necrotérios do país.

Ocorre que o cigarro eletrônico, inventado lá na China em 2003 e estimulado pela avidez monetária da indústria fumageira (perda importante dos lucros nos últimos vinte anos), chegou com toda força, se fez presente na preferência dos jovens e começou a inovar na categoria “produzir doença”.

Estudos do Centro de Prevenção e Controle de Doenças norte-americano concluíram que, em 2019, do total de 2.807 pacientes atendidos nos serviços de emergência, muitos tiveram que receber oxigênio, outros foram entubados, alguns transferidos para a UTI e 68 não resistiram aos sintomas agudos da Evali - tosse, dor no peito, intensa insuficiência respiratória - e nunca mais retornaram ao aconchego da família.

O que despertou imensa atenção da comunidade médica foi a diversificação dos sintomas dessa patologia. Além da tosse, dor no peito e insuficiência aguda grave, estiveram presentes a hemoptise (sangramento) - febre, dessaturação, sintomas digestivos - dor abdominal, vômitos, diarreia e intenso mal-estar.

Na tomografia de tórax, imagens de vidro fosco, muito encontrada nos pacientes que se foram, vítimas da covid.

E vinte e quatro anos era a idade média desses jovens que foram atraídos pelo designer moderno, pelos sabores diversificados e a ilusão de que estariam consumindo um produto sem agressividade à saúde.

Outra inovação desse dispositivo que chegou para realimentar as estatísticas de dependentes da nicotina é que, enquanto as doenças crônicas tabaco-relacionadas necessitam de décadas de dependência, apenas 12 meses é a média de consumo para o desenvolvimento da EVALI, patologia exclusiva do cigarro eletrônico.

Na avaliação da Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabagismo assume a responsabilidade por 12% do total de óbitos registrados ao redor do mundo. Os fumantes adultos que desenvolvem as doenças promovidas pelo cigarro tradicional participam com a quase totalidade dessa mortandade.

Há de se admitir, no entanto, que o consumo crescente das 2 mil substâncias contidas no CE por jovens (70% no grupo etário de 15-24 anos), sem a devida consciência, num futuro não muito distante deve remodelar o perfil etário dessa estatística e certamente vai ampliar esse índice macabro da participação da nicotina e suas companheiras nocivas na mortalidade da população mundial.

É indispensável informar que os DEFs começaram a invadir o universo dos jovens no exato momento em que as agências sanitárias e a comunidade médica internacional estavam comemorando com entusiasmo a redução importante do consumo do cigarro convencional no Brasil e no resto do mundo.

Profundamente lamentável!

Sebastião de Oliveira Costa

Sebastião de Oliveira Costa

CRM-PB: 1630

Especialidade: Pneumologia e Alergologia. Dr. Sebastião é presidente do Comitê de Tabagismo da Associação Médica da Paraíba e membro da Comissão de Tabagismo da Associação Médica Brasileira

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