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Tabagismo e covid

Publicada em 28/05/2021 às 16h01

No DIA MUNDIAL SEM TABACO (31 de Maio), nada mais pertinente do que refletir sobre o tabagismo dentro do contexto dessa pandemia. O que deve acontecer no sistema respiratório de um fumante, quando o vírus faz seu passeio macabro pelos labirintos dos brônquios, pela superfície do parênquima pulmonar?
Vamos entender
A estrutura do vírus de tão rudimentar, não consegue sequer se auto-reproduzir. Precisa portanto, invadir a célula e ordenar que ela reproduza seu RNA/DNA. A célula vai na onda e obedece! 
Daí a reprodução, a proliferação, a infecção.
Pouco se sabe fora dos meios científicos sobre uma substância de nome esquisito - Enzima Conversora da Angiotensina 2. Mas, mais estranho ainda é seu comportamento. É ela que serve de muleta para ajudar a penetração na célula humana do Sars-cov-2, aquele que na rotina atende pelo nome de novo coronavírus.
Ocorre que ao longo das vias aéreas inferiores do fumante, vai-se encontrar uma quantidade de ECA 2 muitas vezes superior a de qualquer outra pessoa. Fácil deduzir que o desenvolvimento da infecção vai chegar bem mais fácil no pulmão do tabagista.
São duas as agressões do vírus no pulmão da pessoa que adquiriu a infecção: a tempestade de inflamação captada com facilidade pela tomografia, produzindo o cansaço progressivo, e as micro-coagulações que ocorrem nos vasos pulmonares produzindo as tromboses e comprometendo muitas vezes de maneira irreversível a capacidade respiratória do infectado. Há de se informar que as substâncias tóxicas do cigarro também estimulam a produção de trombos no interior dos vasos sanguíneos. A  junção da atividade crônica das substância do cigarro, com a ação aguda do vírus, vai certamente favorecer as embolias pulmonares, situação de elevada gravidade na rotina dos atendimentos de emergência. 
Na pneumonia bacteriana, o processo inflamatório ocorre numa ação direta da bactéria no parênquima pulmonar. Na covid, as agressões ao pulmão não são produzidas pela atividade direta do Sars-cov-2, conforme se imagina. Na verdade, toda tempestade de inflamação que agride os pulmões, muitas vezes com extrema violência  é promovida por uma reação do organismo contra o vírus, estimulando a intensa produção de citocinas, que são as verdadeiras responsáveis pelo processo inflamatório que atinge a estrutura pulmonar. Indispensável acrescentar que, a exposição persistente às toxinas do cigarro já favorecem a produção dessas citocinas, mantendo o sistema respiratório em permanente estado de inflamação.
O processo inflamatório agudo da Covid invadindo uma estrutura já devidamente inflamada, há de se convir, vai repercutir com muito mais agressividade, aumentando os riscos de  uma 'visita' ao oxigênio, ao tubo, à UTI.
Lembrando ainda, que o hábito de fumar, pela sua própria característica (levar a mão a boca e soprar a fumaça ), ajuda na contaminação e favorece a transmissão do vírus, essencialmente naqueles tabagistas que albergam o vírus sem apresentar sintomas.
Junte-se a tudo isso, a presença constante de monóxido de carbono nas vias aéreas do fumante, reduzindo a oxigenação e vai-se deduzir que todo fumante precisa, nestes tempos de pandemia, refletir com mais consciência, no sentido de que os cuidados de proteção -  uso de máscara, distanciamento social, higienização das mãos - devem ser redobrados.
E mais importante: É o momento de se tomar a decisão de largar o cigarro! 
 

Sebastião de Oliveira Costa

Sebastião de Oliveira Costa

CRM-PB: 1630

Especialidade: Pneumologia e Alergologia

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