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Por que os jovens estão fumando mais?

Publicada em 29/08/2022 às 10h42

Um olhar mais atento no retrovisor da história do tabagismo e vamos encontrar 34% dos adultos se intoxicando com 7 mil substâncias da fumaça do cigarro. Ao longo desses últimos 35 anos, quando se inaugurou os programas de combate ao tabagismo, os adultos, devidamente conscientizados, foram gradativamente se desvencilhando das garras atrativas da nicotina. Hoje, menos de 10% seguem inalando várias vezes por dia mais de 60 substâncias potencialmente cancerígenas. Essa conscientização, lamentavelmente, não chegou na cabeça do adolescente. Quem confirma essa realidade são as estatísticas que apontam para 90% dos novos fumantes situados entre os 12 e 18 anos de idade.

A indústria tabageira, pragmática, consciente das fragilidades do adolescente, no sentido de que é na transição da infância para idade adulta que está sendo estruturada e sedimentada a personalidade do jovem, direcionava todas suas publicidades para esses segmentos etários. O sucesso pessoal, as atividades esportivas atraíam com muita força os adolescentes numa proporção impressionante, segundo estudo do Instituto para Pesquisa em Saúde e Terapia da Alemanha: a cada dez anúncios visualizados, aumentava em 40% as chances daquele jovem se tornar um novo fumante.  

Ainda dentro desse raciocínio, há de se inserir também os deslizes cometidos pelos programas públicos de combate ao tabagismo, que, ao longo desses 35 anos, desenvolveu suas estratégias com absoluta prioridade na conscientização dos adultos, relacionando o hábito de fumar com patologias que jamais vão estar no contexto de preocupações do adolescente - câncer, enfisema, bronquite, infarto do miocárdio, impotência sexual (vide mensagens nos maços de cigarros).

Pouco se falou de estética - dedos, dentes amarelos, mau hálito, desempenho nas atividades físicas e práticas esportivas.

Objetivamente, os adultos foram gradativamente se desvencilhando da nicotina estimulados por uma nova mentalidade. Fumar tornou-se um hábito antissocial e, claro, o medo consciente das doenças tabaco-relacionadas.

Nada disso chegou na cabeça da população mais jovem.

E é nesse corredor que vem transitando com imensa desenvoltura o cigarro eletrônico (CE). Além de suas imensas potencialidades nocivas, há de se informar, que o usuário do CE tem 3 vezes mais chances de se tornar dependente do cigarro convencional do que uma pessoa comum.

Há de se admitir que um redirecionamento de estratégias nos programas públicos de combate ao tabagismo - promovendo educação/conscientização dos jovens -, aliado a um trabalho consistente e rigoroso na vigilância da legislação vigente – que proíbe a comercialização do cigarro eletrônico deva estruturar as pilastras que vão remodelar as estatísticas do hábito de fumar entre nossos filhos, nossos netos.

Não custa nada acrescentar um incisivo apelo nesse Dia Nacional de Combate ao Fumo - 29 de agosto - para que pais e professores de adolescentes, formadores de opinião desse grupo etário, participem ativamente da conscientização em relação aos perigos do CE, que já anda intoxicando 20% dos jovens brasileiros.

Sebastião de Oliveira Costa

Sebastião de Oliveira Costa

CRM-PB: 1630

Especialidade: Pneumologia e Alergologia. Dr. Sebastião é presidente do Comitê de Tabagismo da Associação Médica da Paraíba e membro da Comissão de Tabagismo da Associação Médica Brasileira

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