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Tempo de chuvas, tempo de alergias e viroses

Publicada em 03/07/2023 às 13h50

Tempo de chuvas, tempo de alergias e viroses

Asma e rinite alérgica são irmãs siamesas. Se desenvolvem se alimentando numa mesma fonte: contatos com ácaros e fungos (mofo).

O ácaro tem hábito noturno, adora uma escuridão. Já o fungo curte mesmo é um ambiente com muita umidade.

Chegam as chuvas, o frio, quarto de dormir fechado, o escuro e a umidade a estimular a proliferação desses dois micro-organismos. Precisa acrescentar que a luz do sol é sempre muito bem-vinda no quarto do alérgico?

Importante informar que ácaros e fungos quase sempre habitam o mesmo espaço. É que um deles, o fungo, participa da rotina dietética do outro, o ácaro.

Os dois se abrigam com muita frequência no guarda-roupa e estão presentes em travesseiros, colchão, lençóis, especialmente os ácaros, que se alimentam também de escamas de pele das pessoas, abundante em todas as camas. E é na calada da noite que chega com toda força os espirros, coriza, coceira no nariz, obstrução nasal, sintomas característicos da rinite alérgica. Muitas vezes associados à tosse, secreção, chiado e a dispneia da asma brônquica.

Lembrando que a tosse seca pode ocorrer isolada, produzida diretamente pela reação alérgica, mas muitas vezes pelo gotejamento pós-nasal das secreções (caindo na garganta ) produzidas pelo processo alérgico e acumuladas no nariz e seios paranasais (cavidades localizadas ao redor do nariz), onde ocorre a sinusite.

À noite, o quarto repleto de ácaros e fungos, o paciente deitado, aumentando naturalmente o gotejamento pós-nasal e a tosse insistente, impertinente a incomodar o sono de crianças e adultos com rinossinusite.

Nesse período chuvoso, há de se incluir também no rol de determinantes da cascata alérgica, as mudanças bruscas de temperatura, produzindo com muita frequência os sintomas acima referidos.

São duas as viroses que nos visitam com muita frequência na chegada das chuvas. A gripe tradicional, que joga o paciente numa cama, cheio de indisposição, dores musculares, febre alta e persistente, além dos sintomas nasais - coriza, espirros, congestão nasal. Responsabilidade absoluta do vírus Influenza

A outra virose respiratória, o resfriado comum, se desenvolve com os mesmos sintomas nasais da gripe, mas tem como agente etiológico mais de 200 vírus diferentes. Só por essa característica, há de se admitir que ele costuma incomodar as pessoas ao longo do ano, mas é no período chuvoso que ele se torna bem mais prevalente.

Objetivamente, o resfriado comum pega mais leve, sem grandes consequências. Já a gripe, precisa de mais atenção, essencialmente em pacientes cardiopatas, renais crônicos, diabéticos, portadores de enfisema pulmonar, asmáticos e idosos. Importante: pacientes acima de 60 anos ou com essas comorbidades, nunca esquecer a vacinação anual contra gripe

A virose, ao contrário da infecção por bactérias, tem autonomia. Chega e vai embora no seu tempo. Não temos como interferir na sua evolução. A medicação associada ao repouso e uma boa alimentação vão suavizar a intensidade dos sintomas e reduzir as chances de outras complicações, como as infecções bacterianas, que costumam chegar já no final da infecção, cavalgando em três ações peculiares da virose: produção de secreção, necrose celular (está no cardápio das bactérias) e redução da resistência orgânica. A secreção que era clara se torna espessa e purulenta (esverdeada), a febre insiste em ressurgir e a tosse que estava indo embora retorna com toda força.

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Vale informar que existe a tosse pós-infecção, que não deve ser confundida com aquela da infecção bacteriana. Considerada subaguda - às vezes impertinente, e muitas vezes preocupante -, pode persistir até seis semanas sem qualquer consequência, apenas corresponde à expulsão dos resíduos produzidos no período da atividade viral.

Importante acrescentar que, em geral, se faz uma confusão muito grande entre resfriado comum e rinite alérgica. Os sintomas se confundem - espirros, coriza, obstrução nasal. A fronteira que separa os dois é a febre/febrícula ou alguma fraqueza/indisposição que regride em 2 ou 3 dias - estamos diante de um resfriado comum.

Por outro lado, a coceira da rinite alérgica, que começa no nariz, não ocorre no resfriado comum e costuma invadir ouvido, garganta e com mais frequência os olhos.

Conforme já referido, asma e rinite costumam conviver ao mesmo tempo no aparelho respiratório do alérgico. Mas, ocorre com muita frequência, no consultório, o paciente asmático referir apenas os sintomas que mais lhe afligem: tosse com dispneia.  Indispensável sempre investigar a presença da rinite alérgica. É que o controle efetivo da asma exige também um tratamento competente da rinite.

Sebastião de Oliveira Costa

Sebastião de Oliveira Costa

CRM-PB: 1630

Especialidade: Pneumologia e Alergologia. Dr. Sebastião é presidente do Comitê de Tabagismo da Associação Médica da Paraíba e membro da Comissão de Tabagismo da Associação Médica Brasileira

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