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O cigarro eletrônico e o Dia Mundial Sem Tabaco

Publicada em 25/05/2018 às 18h

Fim do ano passado a fabricante do cigarro Marlboro veiculou anúncios publicitários na imprensa do Reino Unido com uma novidade pra lá de esquisita: "A Philip Morris é conhecida por seus cigarros. Todo ano muitos fumantes desistem dele. Agora é a nossa vez". Mais: prometeu encerrar a fabricação de cigarros em todo o Reino Unido já em 2018.

Vamos entender essa história:

Quem concedeu o charme e elegância ao cigarro foi a cinematografia hollyoodiana. Quem iniciou o processo de incineração dessa grande mentira foi o relatório Terry, divulgado em 1964 pelo Departamento de Saúde dos Estados Unidos.

Considerando que o cigarro era o mais querido de todos os mocinhos entre os americanos, a realidade exposta naquele estudo promoveu um brutal impacto na sociedade da época. Em pouco tempo, 15% dos fumantes largaram o cigarro.

As campanhas antitabaco, a introdução de leis restritivas e, essencialmente, uma nova mentalidade surgida no rastro de muitos outros estudos jogaram o hábito de fumar na sarjeta. O fumante charmoso virou persona non grata. No bar, no restaurante, na rua, dentro de casa.

O preconceito contra o cigarro gerou uma imensa pressão e os tabagistas foram reduzindo gradativamente, quase desaparecendo. No Brasil, os 32% registrados em fins de século passado minguaram para 10% em 2014.

E quem anda caminhando com muita desenvoltura pelo corredor dessa realidade é o cigarro eletrônico.

Inventado na China em 2003, chegou nos Estados Unidos em 2006, virou coqueluche entre os jovens, com tendência de endemia entre os adultos. Daí pra chegar ao resto do mundo é um pulo.

Se lá em outras eras o conluio indústria cinematográfica-indústria tabageira transformou um serial killer em mocinho, agora a gigante Philip Morris, com investimentos de 11 bilhões de reais em pesquisas e publicidades, está querendo meter na cabeça do mundo que o cigarro eletrônico é inofensivo e ajuda os dependentes largarem o cigarro.

Mas como, se lá está uma droga psicotrópica que atende pelo nome de nicotina, com elevado poder de produzir dependência? E a nitrosamina, o formaldeído, o acetilaldeído produzindo câncer de boca, pulmão, laringe e muitos etc.?

Bom seria se a nicotina produzisse só dependência, mas sua ação nociva ao aparelho cardiovascular participa diretamente com um terço de todos os óbitos por infarto do miocárdio. De quebra, ainda dá uma mãozinha no surgimento de AVC, doença aterosclerótica, tromboses, hipertensão arterial...

Toda essa realidade está diretamente conectada com o tema da campanha do Dia Mundial Sem Tabaco (31 de maio) idealizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS): “O tabaco parte corações: escolha saúde, não tabaco.”

O tabagismo sempre esteve fortemente ligado ao desenvolvimento de doenças respiratórias. A ideia da campanha é chamar a atenção para a violenta agressão produzido pela nicotina e Cia na estrutura do aparelho cardiovascular. Os infartos, os AVCs, os tromboembolismos, patologias com imenso potencial de produzir morte súbita e invalidez definitiva.

Com toda essa violência, fica muito fácil escolher entre saúde e tabaco.

Sebastião de Oliveira Costa

Sebastião de Oliveira Costa

CRM-PB: 1630

Especialidade: Pneumologia e Alergologia

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