Artigos Médicos

Nicotina & Cia

Publicada em 16/04/2006 às 00h

Puro engano acreditar que a nicotina é só maldades. Ela tem também seu poço de bondades. Deixa a pessoa "acesa", mais ligada, com o raciocínio fácil, além de estimular a memória. Ainda tem uma ação muito positiva nos sintomas da síndrome de Parkinson, e estudos recentes indicam sua participação na melhoria da doença de Alzheimer.

Mesmo assim, a nicotina não é flor que se cheire. Gosta de provocar tromboses, é viciada em subir pressão arterial e, vez por outra, dá uma mãozinha nos infartos fulminantes por aí. Mas, o pior da nicotina é essa mania de andar sempre mal-acompanhada. Convive na mesma fumaça com aldeídos e amônia que adoram provocar bronquites e enfisemas; monóxido de carbono, um coadjuvante competente nas tromboses e impotência sexual; benzopireno; nornitrozamina; carbono 14 etc. etc. São mais de 60 distribuindo câncer de pulmão por aí afora.

A bomba de Hiroshima matou 200 mil pessoas? De dois em dois anos, o cigarro providencia isso aqui no Brasil. Acidente de trânsito não dá nem um café pequeno para ele, que mata mais do que todas as doenças infecciosas juntas. É um assassino frio e impiedoso. Hitler matou 5 milhões de judeus? Besteira. O cigarro faz isso todo ano no mundo.

O interessante é que esse "rapaz" posou de mocinho durante muito e muito tempo sem que ninguém se desse conta de suas estripulias. Só em 1964, um relatório do Departamento de Saúde dos EEUU deu o pontapé inicial para transformar o mocinho em bandido. Todas suas maldades foram ali impiedosamente expostas: 4.720 substâncias de alto poder nocivo em todos os tecidos do corpo humano.

A partir de então, as campanhas educativas, os programas de combate ao fumo, as leis proibitivas, respaldados pela simpatia da mídia, transformaram o hábito de fumar numa atitude ostensivamente anti-social. O fumante tornou-se "persona non grata". Essa reversão de mentalidade vem atuando como um mecanismo de forte pressão junto ao tabagista para que ele passe a considerar a necessidade de parar de fumar. A maioria dos fumantes adquiriu a nítida percepção de que a nicotina é uma péssima companhia.

Existe hoje um pleno consenso de que a redução gradativa e consistente do consumo de cigarros é um mero reflexo dessa nova consciência."
Sebastião de Oliveira Costa

Sebastião de Oliveira Costa

CRM-PB: 1630

Especialidade: Pneumologia e Alergologia

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