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Da Vênus de Willendorf à mulher contemporânea

Publicada em 10/12/2006 às 00h

O mais antigo culto ao corpo da mulher data do período Paleolítico representado pela Vênus de Willendorf, hoje também conhecida como Mulher de Willendorf. A sua vulva, seios e barriga são extremamente volumosos, de onde se infere que tenha uma relação forte com o conceito da fertilidade.

Alguns estudiosos atuais não conseguem ver nesta figura, com características de "obesidade", a imagem clássica de uma Vênus. No entanto, mesmo a Vênus de Milo, que representa Afrodite, a deusa grega do amor sexual e beleza física, que varou os tempos como padrão de beleza, mostrava carnes sobrepujando ossos. Na Renascença e no período Barroco, as formas arredondadas, particularmente deste último período, eram também valorizadas na mulher cheia de carnes, sinuosa.

Hoje em dia, as mulheres estão tornando-se cada dia mais descarnadas. A magreza é tida como sinônimo de saúde enquanto o tipo barroco é depreciado e apontado como causador de doenças. No entanto, há confusão na defesa radical do padrão magro, pois a gordura subcutânea dos quadris, braços e pernas não tem nada a ver com os problemas cardiovasculares que causa a gordura tronco-abdominal, esta, representando um padrão andróide de distribuição de gordura corporal.

Bem! A mulher de Willendorf, com sua protusão abdominal, pode ser pouco saudável. Por outro lado, os exageros que certas mulheres atualmente cometem para atingir o padrão de beleza Twiggy, modelo magérrima da década de 60 e que hoje ainda continua se replicando, tampouco o é. Por perseguirem este modelo a todo custo, seja por "necessidade profissional" ou por influência da mídia, as mulheres podem entrar em um processo de obsessão por magreza, omitindo refeições, fazendo demasiado exercício, provocando vômitos para não absorverem o que ingeriram, ficando perigosamente desnutridas.

A profunda vulnerabilidade narcisista do período da puberdade e da adolescência feminina encontra uma ilusão de re-equilíbrio na fetichização da magreza que a cultura lhe oferece. Em qualquer que seja a natureza da ansiedade desencadeada - perda das referências de apego primárias, objetos da sexualidade, colapsos do Eu ideal "" é sempre possível a uma adolescente mulher apelar ao recurso do perfeccionismo corporal através da busca e manutenção da magreza como defesa narcisista universal de compensação oferecida pelos valores da cultura atual.

Daí a necessidade de corrigir os padrões e rever conceitos de beleza que se coadunem com a saúde do corpo e do espírito. (A Espanha, hoje em dia, só está aceitando modelos dentro do índice de massa corporal normal). A natureza do amor é imponderável, portanto não pesa nada... Buscar o amor, a admiração através do excesso de magreza não é o caminho. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra "" nem Vênus de Willendorf, nem as esquálidas modelos contemporâneas.

Rosália Gouveia Filizola

Rosália Gouveia Filizola

CRM-PB: 2399

Especialidade: Endocrinologista

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