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Crianças com doenças de gente grande

Publicada em 23/10/2015 às 18h

As mudanças de padrão comportamental das famílias e os índices crescentes da violência nos centros urbanos, aliados ao avanço tecnológico, fazem com que as crianças e adolescentes passem mais tempo na frente da TV, do celular e de computadores, diminuindo a interação com o mundo real e passando a navegar no virtual. Isso tem como uma das consequências a diminuição ou quase inexistência de atividades físicas ou lúdicas. A situação se agrava pela ausência dos pais, que ficam o dia inteiro fora, sem tempo para orientar os hábitos de vida e o cuidado com a alimentação saudável (desde a amamentação, levando ao desmame precoce antes dos seis meses). Esse contexto tem feito surgir nas crianças, precocemente, doenças como obesidade, hipertensão arterial, estresse, depressão e lesão por esforço repetitivo (LER)

Entre as doenças do adulto que hoje acometem crianças no mundo inteiro, a obesidade traz os desdobramentos mais preocupantes. O excesso de peso reflete a má qualidade da alimentação, com alto consumo de produtos industrializados, ricos em gordura, sal e carboidratos, deixando de lado a antiga refeição de arroz, feijão, carne e vegetais e frutas. O sobrepeso afeta a relação do indivíduo com o corpo e a autoestima, interfere no desenvolvimento neuromotor e psíquico, além de ser apontado como uma das principais causas de bullying nas escolas.

Diante destes problemas, é necessário estimular a prevenção, que começa na efetiva consulta de puericultura que o pediatra realiza desde o nascimento, e segue durante as fases de desenvolvimento da criança; promover a prática de esportes nas escolas; realizar triagem laboratorial dos níveis glicêmicos, de colesterol e triglicerídeos; e vigiar os níveis pressóricos a cada consulta.

Já o estresse e a depressão têm como fatores causais o excesso de atividades paralelas à escola e a constante pressão dos pais e da sociedade por um desempenho de alta performance. Muitas vezes, as crianças não suportam o ritmo de vida atribulado imposto de forma crescente e desumana, que a impossibilita de exercer o seu direito a descansar, brincar e ter liberdade de escolhas, passando a ter a rotina de adulto com vida de empresário.

Todos os esforços devem ser feitos para a busca do equilíbrio e a harmonia entre a criança, sua família, a sociedade e o meio ambiente. É preciso estabelecer metas de vida saudável em contato com a natureza; oportunizar a criatividade e liderança, pautadas na convivência, na troca e no lúdico, no respeito às fases de desenvolvimento e crescimento individual; e promover estímulos ao crescimento físico, intelectual, social e espiritual, baseado no humanismo e na ética.

A criança precisa de referências de vida e atitudes saudáveis, do dialogo, da presença dos pais, do limite e do amor incondicional, que se expressam na educação contínua dos filhos, no cuidado com a saúde integral. Aos pais, um pequeno conselho: "cresçam sem ficar gente grande".

Alexandrina Cavalcanti Lopes

Alexandrina Cavalcanti Lopes

CRM-PB: 3695

Especialidade: Pediatria

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