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Obesidade: o maior desafio da saúde do século XXI

Publicada em 05/03/2025 às 17h18

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que a obesidade é um grave problema de saúde pública e, por isso, deve ser vista como uma doença. Estamos vivenciando uma verdadeira epidemia da obesidade e isto agrava cada vez mais a pressão sobre os sistemas de saúde já sobrecarregados, particularmente em países com recursos limitados. Uma das mais respeitadas revistas médicas do mundo – “The Lancet” – publicou nesse início de março um estudo sobre a obesidade que incluiu dados de 204 países e territórios de todo o mundo. Este estudo teve como base dados do “Global Burden Disease”, que é um programa financiado pela “Fundação Bill& Melinda Gates”, e que tem como objetivo compilar dados de saúde da maioria dos países.

O estudo sinaliza para a incapacidade dos governos em combater a crescente crise de obesidade e excesso de peso dos últimos 30 anos e que levou à explosão alarmante no número de pessoas afetadas. Assim é que, entre 1990 e 2021, esse número quase triplicou entre adultos com mais de 25 anos, passando de 731 milhões para 2.11 bilhões, e, extremamente preocupante, mais do que dobrou entre crianças e adolescentes de 5 a 25 anos, passando de 198 milhões para 493 milhões. A projeção feita mostra que, no ano de 2050, 60% dos adultos, ou seja, 3.8 bilhões de pessoas, e quase um terço (31%) das crianças e adolescentes, ou seja, 746 milhões, deverão estar acima do peso ou obesos. Este é, sem dúvida, um dos maiores desafios de saúde do século XXI.

Segundo os autores do estudo, é imprescindível implementar, desde já, planos de ação de cinco anos (2025-2030), com medidas emblemáticas como regulamentar a publicidade de alimentos ultraprocessados, integrar infraestruturas esportivas e playgrounds nas escolas, incentivar a amamentação e dietas equilibradas desde a gestação e desenvolver políticas nutricionais adaptadas a cada país. Afinal, em 2050, um em cada três jovens com obesidade, ou seja, 130 milhões, viverá em duas regiões: Norte da África e Oriente Médio, seguidos pela América Latina e Caribe, com graves consequências sanitárias, econômicas e sociais. Nesse caso, os primeiros afetados, com um forte aumento a partir de 2022-2030 em escala global, serão meninos de 5-14 anos, sendo que em 2030 deveremos ter nessa faixa mais obesos (16.5%) do que jovens com sobrepeso (12.9%). O aumento no número de crianças e adolescentes obesos representa um futuro sombrio não apenas para a saúde pública, mas também para a força de trabalho.

Atualmente, ainda segundo o estudo, mais da metade dos adultos com sobrepeso ou obesidade vivem em apenas oito países, a saber: China (402 milhões), Índia (180 milhões), Estados Unidos (172 milhões), BRASIL (88 milhões), Rússia (71 milhões), México (58 milhões), Indonésia (52 milhões) e Egito (41 milhões), de acordo com dados de 2021. Por tudo isso, e pelas terríveis repercussões negativas da obesidade, faz-se necessário um compromisso político muito mais forte do que esse que estamos vivenciando, com estratégias globais que melhorem a nutrição, a atividade física e o meio ambiente em que estamos vivendo. Devemos, todos juntos, persistir na luta, pois desanimar será o pior resultado.

João Modesto Filho

João Modesto Filho

CRM-PB: 973 / RQE 1026

Especialidade: Endocrinologista

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