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A comida, o afeto, a saúde

Publicada em 31/08/2018 às 18h

Numa linda música, Chico Buarque canta "com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto...", pura sedução. Hoje ele cantaria “sem açúcar, sem sal, sem glúten, sem lactose, sem gorduras saturadas, low carb-high fat, high protein” e, quem sabe, esqueceria o afeto. Tantas restrições relembraram, em 31 de agosto, Dia do Nutricionista, a importância desse profissional nesse cenário tão complexo.

A comida, grande fonte de prazer, muitas vezes é compreendida de forma incorreta. Contam-se as calorias, em vez de contar o prazer; descontam-se as tristezas e decepções, quando a vez era de degustar a alegria; pesam-se os pratos, em lugar de saborear os temperos. Sem contar as refeições apressadas e solitárias ou mal compartidas, engolidas em restaurantes às vezes com mais de cem ofertas no cardápio, sem nenhum aconchego e cheio de TVs ligadas.

Enfrentar os obstáculos do cotidiano como falta de tempo, distâncias, trânsito, inabilidade culinária, falta de gosto em cozinhar e até a preguiça dificultam a alimentação saudável. De quebra, a publicidade confunde e a mídia faz estardalhaços aprovando ou condenando alimentos, mais assustando as pessoas que contribuindo para sua saúde.

No Guia Alimentar para a População Brasileira do Ministério da Saúde, disponível on line, não há proibições, há orientações do que se deve priorizar ou moderar. Há ainda sugestões como o envolvimento pessoal no preparo das refeições, tornando-as balanceadas e ajudando a prevenir ou controlar diabetes, hipertensão, obesidade e outras doenças.

Fugir da medicalização da comida, dos radicalismos e modismos e escapar da publicidade dará espaço para ajuntar o tempero mais especial, pitadas de afeto, que pode transformar a refeição solitária ou compartilhada num ato de felicidade, equilibrando a vida e trazendo mais prazer e saúde.

Maria de Fátima Duques

Maria de Fátima Duques

CRM-PB: 2638

Especialidade: Gastroenterologista

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