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Uma outra saúde é possível?

Publicada em 27/06/2014 às 17h

Em tempos de tantos questionamentos ao modelo de sistema de saúde brasileiro, aqui remonto um pouquinho nossa história de saúde: inicialmente, era filantrópica e, no final do século XIX e início do XX, o estado só intervinha em epidemias; saneava o Rio de Janeiro; vacinava contra a varíola; atuava em doenças mentais, hanseníase e tuberculose. Vieram as emergências, as internações, as caixas de pensão, o INPS, INAMPS, e finalmente o Sistema Único de Saúde (SUS), resultante da Reforma Sanitária, que se opôs à política de saúde do regime militar e propôs os princípios de universalidade, a equidade e a integralidade.

Saúde, como tudo, não se desvincula de política. O Brasil vive hoje uma saúde híbrida, onde convivem dois sistemas, o público e o privado, com diretrizes essencialmente opostas, apesar de aparentemente terem um objetivo comum. Para quem defende a participação mínima do estado, quanto mais privado, melhor; é a lógica cruel do capitalismo que tudo mercantiliza.

A ineficiência histórica de muitos governos, e até os erros dos que tentaram ordenar e ampliar as políticas de saúde, nos tornaram reféns da crítica: é público, não presta; é privado, é bom. Pergunto-me: e quem não pode pagar? Se a saúde, além de questão individual, é um fenômeno social (portanto público) e como cidadãos somos capazes de construir nossos destinos, precisaríamos ver a realidade no seu contexto e melhor intervir socialmente, como preconiza o Fórum Social Mundial, com seu lema "Um outro mundo é possível", buscando diminuir as desigualdades e iniquidades no planeta.

Jogar apenas nos governos a responsabilidade e as rédeas de tudo pode tirar do cidadão a possibilidade de contribuir na construção da saúde coletiva (aliás, de tudo) e de propiciar ou a correção do que já existe ou a vinda do que é novo.

Sem receita para a solução dessas questões, relembro os versos de W. E. Henley que foram esteio para Nelson Mandela, "Eu sou o senhor de meu destino/Eu sou o capitão de minha alma", pois nesta força individual mora talvez o segredo da interferência no coletivo, viabilizando transformações sociais e tornando uma outra saúde possível, ou mesmo muitas outras coisas.

Maria de Fátima Duques

Maria de Fátima Duques

CRM-PB: 2638

Especialidade: Gastroenterologista

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