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A vaidade, a velhice, a felicidade

Publicada em 31/05/2013 às 17h

Perdoem-me se magoo alguém ao dizer a palavra velhice, hoje quase banida por eufemismos do tipo melhor idade ou assemelhados, que não muda em nada o significado real no que se refere à evolução natural da espécie humana. Confundida com velharia, a velhice passou a ser abominada e inutilmente evitada, como se já fosse possível dominar de modo definitivo a natureza. Vários são os métodos empregados, espectro que inclui modificações de vida mais naturais, com dietas, exercícios físicos e medicações antioxidantes até os procedimentos estéticos mais invasivos ou mesmo cirurgias plásticas. Há toda uma indústria que fatura milhões no mercado da vaidade, da beleza, do antienvelhecimento; o bombardeio midiático já não se restringe às mulheres. Tudo isso é muito bom quando não vira obsessão e objetivo único da vida.

A mídia, principal veiculadora de tantas dessas ilusões, farta-se de alardear quando há algum insucesso, em geral tentando culpabilizar o médico e o serviço, muitas vezes profissionais e hospitais proficientes e de larga experiência, com raras exceções. Longe de mim criticar quem procura ser mais bonito e mais jovem, eu mesma quero isso; entretanto, tento sacudir as pessoas ao meu alcance de modo a fazê-las refletir que há outras coisas na vida além da beleza e da juventude; que a vida pode ser melhor aproveitada se nos aceitarmos como somos, sendo assim até mais aceitos pelos outros; que a velhice é inevitável e as limitações a ela inerentes podem no máximo ser dribladas e, finalmente, que nada do que fizermos será garantia de felicidade, estado este cada vez mais difícil de se atingir, sobretudo com esse grau atual de cobrança em relação à aparência de jovens e bem-sucedidos que somos obrigados a ter, não importa com que idade, além de evidentemente por muitos outros motivos que o espaço não permite citar.

A linda Greta Garbo morreu reclusa, dizem, para esconder o envelhecimento; Jane Fonda, porém, alardeia sua beleza hoje velha no que chama de terceiro ato da vida, enfrentando a velhice de frente. Transpondo isso para um mundo mais pedestre, acolher a natureza em nós pode talvez não nos fazer mais felizes, mas imagino que nos ajude a envelhecer sofrendo menos e que amenize a angústia da finitude.

Maria de Fátima Duques

Maria de Fátima Duques

CRM-PB: 2638

Especialidade: Gastroenterologista

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